segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

SEM VOCÊ

Um constante pensamento deixa minha
alma abalada, minha caneta parada,
minha mente vazia e cansada. Nada.
O papel está em branco e um possível
verso logo se esvai.

Olho para o teto, abraço meu
travesseiro e tento dormir, mas como
adormecer sem a verdadeira poesia
conseguir escrever? O relógio, a fadiga,
esses não exercem mais poder. A poesia
é quem me conduz, mas entre minhas
ideias não há luz.

Minha cama se tornou como um ermo e
minha mente como uma embarcação
inerte à calmaria dos ventos. Eu quero
dormir, chego a cochilar, mas não
demora até assustado de repente
acordar, preso ao ponto de partida e
sem saber como continuar.

Silêncio e trevas invadiram meu
coração. Movo-me como as sombras,
como o vento que segue solitário
rumo a nenhum lugar, e em nenhum
lugar é onde também eu quero estar.

É de manhã. Como um seco rio o
curso da minha vida prossegue vazio,
pois satisfação em meu corpo não
mais fluiu desde que você partiu e sua
falta meu íntimo sentiu.

Não queria admitir, quem me dera
encontrar forças para resistir, para sem
você novamente sorrir, mas não sou
capaz de impedir que em minha
cabeça vulnerável tu me encontres
para seduzir.

Tinha tanto ainda a lhe dizer, não
queria tão cedo te perder. Não sei mais
o quê fazer nem como ainda hei de
viver. Rezei para te esquecer, para seu
rosto em meus sonhos nunca mais
aparecer, mas deixar de te ver fez
meus olhos lágrimas verter.

Eu tentei, mas não posso ignorar o fato
de que não consigo te fazer
desaparecer. Antes de você minha
alma enfraquecer, em meus poemas
eu conseguia imparcialmente
escrever, mas em minhas palavras
você agora insiste em permanecer.

Eternamente enraizada no
subconsciente de meu reflexivo ser é
insuportável ter de seu toque gentil
carecer, de minha mente a seu poder
submeter, sem meios de outra vida
escolher, de outra paixão deixar crescer.

Cansei de com esse conflito conviver.
Quem me dera parar de sofrer, desse
veneno que é te amar em minhas
veias manter. Quem me dera renascer
e não ter de a esse antigo amor querer
me comprometer.

Não há prazer em com as sombras do
passado sobreviver. Minha alma
suspira e não quer se render, mas o
traiçoeiro coração nunca deixa de me
surpreender quando o amanhecer os
mesmos sentimentos que me
escravizam me compele a desenvolver.

Lucas O. Ornaghi

REPENTINA COMO A BRISA

Com a aurora renascia a ávida busca de
um homem, e um dia no espelho a
avelhentada face de um estranho ele vê,
um reflexo distante e até então
desconhecido de si mesmo, mas
quando ele de novo olha, uma
indesejável familiaridade ele nota, ao
passo que repentina como a brisa se
sucede o que foi deixado para sempre
num passado já fora de seu alcance.

O tempo presente em cada momento
avança como um trem em movimento, e
a vida, feita de estradas que depois de
percorridas permanecem de nós
escondidas, transforma-se na corrida
contra o imprevisível, na busca pelo que
é capaz de preencher universos vazios
e solitários feitos de longas noites que
te sufocam e tornam como roupas
presas num armário.

Uma lágrima de seus olhos lentamente
escorre e as estruturas de sua alma
percorre. Em uma lágrima uma
reprimida tristeza se esvai e nas
páginas de um empoeirado livro que
está em suas mãos cai. Palavras
escritas seus lábios em silêncio leem, e
em sua memória lembranças de um
apaixonado jovem seus olhos com
saudade veem.

À porta de seu quarto o hálito gelado do
inverno esfria mais seu corpo a cada
incerto amanhecer, que em breve em
um sono profundo o fará adormecer.
Décadas vividas entorpecem seus
passos, embranquecem seus cabelos e
adoecem o seu corpo, mas não o
esquecem daqueles a quem ama e já
amou, daqueles a quem durante o
tempo de uma vida o acompanhou.

Distante da terra dos mendazes e dos
néscios morosamente vive os últimos
momentos de um exânime moribundo, e
penetrando pela última vez o coração
do profundo e vasto oceano seu íntimo
sensibiliza-se com a beleza poética
contemplada em mais um encarnado
pôr-do-sol, que lhe presenteia com o
enrubescer das nuvens do seu último e
mais belo ocaso.

Como ele queria que tão somente o
curso da vida fosse calmo e lento como
um navio a zarpar, desaparecendo no
longínquo do mar. Sendo agora levado
pela nortada, plangente sente ter que
deixar para sempre a borrasca, mas
ditoso se lembra que partindo
eternamente sua essência em outros
corações vai conservar, quando sua
existência terrestre então findar.

Lucas O. Ornaghi

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

NÃO DIGA

Ontem eu era uma criança, sim o tempo
avança, não descansa, mas agora
a vida toda me cansa, na insanidade
me lança, pois nela não há bonança,
só da paz tenho uma vaga e quase falta
lembrança, e junto a essa, minha
também quase inexistente esperança.

Esperando, reclamando, engordando,
embriagando-me, endividando-me, de
todos suspeitando, continuo aqui me
odiando, irritando-me com esse sistema
que meus passos fica vigiando, da
minha vida se alimentando e como uma
marionete me controlando.

Em minha cabeça ouço algo não
esquecido, talvez palavras de um sábio
falecido, mas convencido como sou,
fácil não sou dissuadido, e embora
não me dê pelo mundo vencido, a quem
quero enganar se a mim mesmo sei que
não mais posso confiar?

Não gosto mais disso e é por isso que
vivendo em vão, sem encontrar qualquer
solução, gritando, suando no chão, verto
o desespero numa lágrima de
lamentação, arrasto-me para outra
dimensão, para um mundo concebido
em uma ilusão e esquecido como esses
versos criados a partir de uma trincada e
vazia garrafa em minha mão.

Perdido, entorpecido, num velho e sujo
carpete caído, pela incerteza dividido,
pelo sono consumido, pelo álcool
rendido, sozinho e abandonado, como
um louco por todos rejeitado, sobrevivo
numa luta constante liderada por meu
ser errante, que a todo o momento se
encontra conflitante, em busca de um
comprimido calmante.

Sinto-me morto, acordo torto, absorto,
levantando cansado, desorientado,
ainda mais alienado, como um pobre
condenado, por esse mundo desvirtuado,
e vivo agüento todos os dias os
mesmos infernais clichês, como o pôr-
do-sol, que findando outras vinte e
quatro horas perdidas me aborrece,
mas é o único que nunca me esquece.

À minha volta muitos morrem, alguns da
morte correm, outros a escolhem, mas
permaneço aqui, não me pergunte por
que, já que há muito deixei de qualquer
coisa escolher, de saber o quê da
existência fazer. Por isso, não diga nada.
Não me diga pelo que viver e se devo
viver, não me diga que não devo beber e
não me diga como escrever.

Lucas O. Ornaghi

sábado, 16 de outubro de 2010

ETERNO FOGO DE MEUS DEVANEIOS

Caminhando nas horas mortas pelos salões
vazios é fácil te avistar, mas é difícil
conseguir te decifrar. Só tu podes me levar a
qualquer lugar, e não sei o que de ti esperar

a não ser o misterioso a desvendar.

Na primeira vez que nos tocamos com os
olhos tu consumiste a alma e me deste um
negro coração, o mundo obscuro de um
alienado distante da razão.

Em ti através do tempo posso viajar, num
devaneio ao infinito escapar, a insanidade
libertar, meus demônios e fantasmas
enfrentar e novos mundos encontrar,
quando sua secreta chave dimensional usar.

Em minha cabeça tu vais entrar, meus
pensamentos penetrar e por mais que eu
tente, depois não mais me vai deixar separar
meu coração da minha mente.

Assim como não há chama sem um fogo, tu
acendeste em mim a ambição de um poeta,
mas para sempre me escravizaste, uma vez
que tu és o eterno fogo que alimenta meus
devaneios.

Num mundo de profunda escuridão passei a
acordar, a caminhar, a explorar, a de
inspiração me inflamar, a sua dor poetizar, a
sua essência captar.

Tu és tudo e ao mesmo tempo és nada. Tu
és a escuridão, tu és a minha luz. Tu me
fazes vaguear, nos sonhos viajar e os
ocultos segredos do universo encontrar
antes de a luz do sol raiar.

Tu és o botão de um amanhã a desabrochar.
Tu és bela, temida, mas precisa ser ouvida.
Eu sou seu, tu és minha, minha fiel amiga,
amante, minha alma conflitante.


Lucas O. Ornaghi

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

AMOR DE AMIGO

Em forma de menina um belo anjo em minha vida
apareceu e um poema sobre ele minha alma um
dia o prometeu. Quando minha mão se mexeu e a
caneta o papel percorreu, esse ser angelical em
cada palavra na poesia renasceu.

Tenho tanto a escrever, mal consigo te dizer, e
sem mesmo tão bem a conhecer, gosto de ti
porque estar ao seu lado me dá prazer e não há
como não saber quanta alegria é viver pra ver que
pessoas como tu me fazem querer converter em
um homem melhor do que acredito ser.

Não há como não reconhecer que o que sinto
ternamente por ti, fiel amiga, vai jamais perecer, e
mesmo não sabendo o que vai se suceder, é certo
que não te farei nem te deixarei sofrer, pois assim
como o Sol amanhã irá nascer, nossa amizade
nunca irá desaparecer.

Por mais que pelo vale das sombras venhamos a
andar temos um ao outro para nos apoiar e as
trevas da vida juntos dissipar, e minha mão nunca
vai deixar de estar, nunca te vai abandonar, já que
no coração sempre te vou guardar e o amor de
um verdadeiro amigo te dar.

Não pense que quero mais do que seu meigo
sorriso apreciar, porque o que mais almejo ganhar
é um semblante alegre em ti encontrar. Mas se
lágrimas tiver para derramar, não hesite em meu
ombro se aproximar para que a possa confortar,
pois mesmo anjos como você podem tristes ficar.

Queria eu poder melhor a descrever e a conhecer,
mas agora não resta nada mais relevante a dizer,
a não ser que não despreze jamais o amanhecer
e viva o bastante para não temer o rubro
entardecer que delimita nosso efêmero viver.


Lucas O. Ornaghi

domingo, 19 de setembro de 2010

O SIGILOSO DESABROCHAR DE UM VERDADEIRO AMOR

Ah...sigiloso desabrochar, até quando hei de esperar?
Abstraído e apaixonado não vivo para mim mesmo.
Percorrendo os lugares mais recônditos da mente
tu vens ao meu encontro, arraigada a mim como a
lembrança impossível de esquecer.

Olhando-me com mil expressões, chorando a mágoa,
sorrindo apaixonada, hora orgulhosa e resplandecente
como uma rainha, hora frágil e desamparada como a
flor que tu és, eu me disponho a amá-la.

Nas respirações que meus pulmões se enchem do
viver leviano lembro-me de que só tu alegras a minha
alma e que sem ti eu seria um cenário vazio prestes a
apagar-se, sem alguém para realçar a pintura mortiça
que sou por dentro.

A aurora revela o fulgor de mais uma primavera da
vida e nela a única imagem que eu poderia querer
contemplar e o único pensamento em minha mente és
tu, quem me ilumina, dando sentido à minha existência.

Se eu fosse pedir alguma coisa a Deus, eu pediria a
Ele para parar o tempo, para que a primavera e a sua
beleza durassem para sempre, e assim como uma
chama ardente, o nosso amor permanecesse aceso
pela eternidade.

Cedo é o tempo em que se despertaram nossos
corações apaixonados, mas mesmo alguém discreto
como eu tem de combater os desejos mais intensos

provenientes de uma alma desesperada para amá-la.

Sermos íntegros e verdadeiros nos torna estrangeiros
nesse solo devasso em que pisamos, e sofrendo a
cada dia com paciência tenho resistido viver esse
romance somente nas palavras escritas e poetizadas
com esmero.

Não minto que tenho uma alma pura, sendo torturado
pelo desejo de tê-la em meus braços, sem conseguir
amenizar o fogo que nos consome em cada penetrante
olhar, pensamento, minuto sem estarmos juntos.

Extenuado vivo nesse conflito revoltante entre carne e
espírito, tendo-lhe apenas em olhares que trocamos à
distância. Mas como se tornou insólito o que agora
sinto, zelar por ti é a disposição natural e instintiva da
minha alma.

Embora venham nossas almas na fragilidade de um
último suspiro a se perder, a felicidade transcenderá
os anos em que se ignorará a velhice e o tempo e
a morte não serão mais obstáculo para amá-la.


Lucas O. Ornaghi

domingo, 12 de setembro de 2010

CAMINHANDO NA PRAIA DAS SOMBRAS

Sombria tem nascido a aurora e a felicidade
já não passa de uma imagem vaga em meus
avelhentados olhos. Um denso negrume tem
se irrompido em minha vida e as memórias
de outrora me são as seqüelas do presente.

Dia após dia, acordando em pesadelos, já
não sei mais onde estou. Estaria eu
novamente na praia? Estaria novamente
inserido nessa questão de vida ou morte que
ceifa nossas almas mortais?


Em meus pesadelos, caminhando na praia
das sombras, olho acima de mim para o
céu rubro, avistando nuvens de fumaça e
sentindo uma chuva carregada de ódio
penetrar a face e percorrer o meu corpo.

Em minha alma sinto aqui a morte. Quando
percorro esse lugar sou forçado a observar
um horizonte cercado por um mar vermelho
de sangue injustificado e a sentir a cólera
dos residentes desse solo amaldiçoado.

Na praia das sombras compartilho a
angústia de antigos fantasmas. Eu olho
abaixo de mim, mas não vejo a bela areia
branca, só poeira e cinzas- restos mortais
de um passado sanguinolento e bestial.

Como um eremita prossigo caminhando
nesse ermo que alimenta a animosidade
das sombras que ressurgem, resgatando
aos olhos rostos do passado, marionetes
abandonadas nas trevas do esquecimento.

Hoje campos verdes abrigam cruzes
brancas que se estendem como um mar de
nomes desconhecidos, e é lá que dias de
glória acabaram, com uma salva de 21 tiros,
uma continência militar e uma bandeira.

Quando o amanhã não chegar para mim sei
que lá estarei enfim, esquecido como esses
intrépidos, nada além de um resquício da
areia da praia das sombras, da insanidade
que conduz os homens à perdição.

Lucas O. Ornaghi

sábado, 11 de setembro de 2010

VIDA E MORTE

Velas que se apagam, nada mais que vidas que
se acabam. Ao passo que nascemos para viver,
envelhecemos para morrer. Homens fortes,
homens com sorte, todos provarão o doce sono
da morte.

De fato é um corte profundo na existência, e em
sua insistência o mundo procura recorrer à
ciência, tentando sobreviver a um entardecer
que determina os que partirão e em solidão os
mais íntimos deixarão.

Imprevisível é a sua presença invisível, e
enquanto os dias se adiantam e os anos
rapidamente te desencantam constantemente
o ser humano é surpreendido pelo acaso e
arrependido é levado pelo ocaso.

Claudicações de uma vida mal vivida tiram sua
agilidade e repercutem no desespero de muitos
dos corações que na fragilidade de um último
suspiro elevam suas mais dolorosas emoções
e deixam as mais penosas recordações.

Não há mais o que reparar, não há mais tempo
para se curar, para se salvar, para prantear,
pois seu fim chegou, alguém talvez se magoou,
mas sua essência agora acabou, sua existência
expirou e sua alma a morte ceifou.

Essa sina só fascina o anjo das trevas, mas
enquanto sua temporária eternidade lhe traz
à tona a sua delicada realidade, uma
complicada contrariedade se faz para ele
também verdade.

Se ainda não sabe, a Deus não cabe a vida de
seus filhos tirar, e quem com isso vai ter que
lidar é você, que não sabe se guiar e acha que
sozinho vai conseguir se virar antes de a sua
vez a qualquer momento chegar.

Lucas O. Ornaghi

sábado, 4 de setembro de 2010

DIAS DE FRUSTRAÇÃO














Hesitante e sozinho me vejo dentro dessa prisão,
desse mundo de desmoralização, sem saber
como transpor o tempo, que na dor de cada mal
vivido momento perpetua meu existencial
ferimento, lacunas e sofrimento.

Em cada instante uma dúvida acorda meus
pensamentos martirizando meu coração,
enquanto eu, deitado na escuridão, olho para
dentro procurando com a alabastrina lâmpada
enxergar a razão.

Despertando no sonho da alienação vejo-me
através de um espelho lá fora buscando
gratificação, e longe sempre estou de mim
mesmo e de encontrar uma porta de saída
desses dias de frustração.

Sempre onde estou não é onde quero estar, mas
se vierem me perguntar não saberei a resposta
certa dar, porque um mistério ainda estou a
desvendar, ao mesmo tempo cansado de nessa
vida o ver perdurar.

Minhas pernas cansadas sobem as escadas,
percorrem diferentes estradas, mas meus
olhos tornam errante o meu caminhar quando
buscam o oculto lugar aonde eu possa minha
infelicidade abandonar.

Lucas O. Ornaghi

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

EM BUSCA DO ÚLTIMO DETALHE

Destinado a nascer e morrer num mundo
que exige perfeição vivi a minha vida na
ilusão de um dia rematar o último detalhe,
mas inevitável é encontrar sempre um
detalhe a mais para se ajustar e não
ignorar o fato de nunca poder falhar.

Irrequieto numa vida de constantes
aspirações e ofegantes respirações fui
tolo em confiar no coração e me deixar
levar pela vã obsessão de ser um peão,
controlado pela sensação de lá fora
conseguir causar uma boa impressão.

Quando eu acordei não acreditei nos
anos que leviamente usei, na vida que
desperdicei, porque pela primeira vez eu
levantei e no espelho me olhei, e ao invés
da expressão de um rosto, outro espelho
surgiu, refletindo meu ser vazio.

Lucas O. Ornaghi

domingo, 15 de agosto de 2010

VESTÍGIOS DO HORIZONTE

Tão rápida a esperança na noite se perdeu e diante de
meus insones olhos abruptamente o Sol várias vezes
nasceu. Dias passaram, mas nada me acrescentaram,
anos me envelheceram, mas minha alma não
enriqueceram.

Apreensivo o amanhã respiro, alérgico ao ar da vã
existência espirro, solto um suspiro, problemas para
um copo com whiskey transfiro, contra meu reflexo o
punho atiro, com o vidro me firo, por pouco não piro
e o sangue de meus pulsos de vez tiro.

Sempre comprimido, abatido, a um insignificante
reduzido, como um animal enjaulado, rigidamente
disciplinado, sou abusado, privado, institucionalizado.

A infelicidade consentir, a mentir e sorrir sou
ordenado, controlado para não ser brutalizado e
acordar um marginalizado pelo sistema descartado.

Não me deixe apodrecer. Eu já sou um fragmento da
existência, uma sombra de um tempo passado que
ainda sobrevive no vazio e tédio do presente.

Sei o que buscar, mas não sei onde encontrar. O que
eu não tenho o sistema insiste em oferecer, mas nunca
é o que eu preciso para feliz ser.

As pessoas querem suas ideias me vender, mas nada é
o que parece ser, pois tudo o que elas têm a oferecer é
um mundo de ilusões que vai infeliz te fazer.

Trilhando um caminho incerto eu olho para o
horizonte à procura de algo que me satisfaça, mas o
que restou nesse mundo eu chamo de desgraça.

Lucas O. Ornaghi

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ADAMANTINO

Ouço incansáveis vozes que insistem em minha
cabeça retumbar, mas para a propaganda mundana
nela não há lugar, e se minha alma não é um item a
negociar não podem me subjugar.

Ignorem minha existência e não me tentem. Não
procuro uma proposta de vida, então não me
enfrentem. Não estou amistoso, só desgostoso,
mentalmente cansado, mas nunca manipulado.

Confie em poucos. Confie nos loucos. Entenda
a insanidade da mente que vive livremente nos
mentalmente perturbados e naqueles poucos
loucos pelo sistema ainda não moldados.

Há uma febre em minha cabeça querendo arder,
uma ira reprimida a libertar, lágrimas de sangue a
verter, paredes a quebrar e um coração
adamantino a manter.

Lucas O. Ornaghi

terça-feira, 3 de agosto de 2010

ETERNO DEVANEIO DO AMANHÃ

Houve o tempo em que a declamação se tornou a prece
tímida de uma sombra esquecida na escuridão,
enquanto a luz da poesia se apagava cada vez mais no
frio coração de um poeta em solidão.

Tudo parecia ser em vão, a vida passou a ter o peso de
uma obrigação, a mente vagueava à procura de uma
nova ilusão, já que longe queria estar da realidade
presa à razão.

A única sensação era a de despertar sempre no chão,
em constante alienação, uma porta de saída para
escapar de dias de tédio e frustração sem aparente
solução.

Até que um dia pousou uma pomba branca em minha
mão carregando-me para longe do desgosto e
insatisfação desses tempos, dando-me motivos para
viver então.

Daquela pomba um anjo em forma de mulher se
revelou, sua voz me convidou, nas nuvens distantes me
levou, os alicerces da minha alma amparou e a paz das
ondas do mar tu me presenteaste.

Tu se tornaste a aurora, a noite sombria, o eterno
devaneio do amanhã, o contínuo pensamento, a
importância de cada momento, a alegria que ilumina a
minha alma em noites de trevas e sofrimento.

Tu és a saudade, a amizade que me resgata da
usualidade, leva-me além das fronteiras da realidade
para um mundo criado em instantes de felicidade e
liberdade.

Quem me dera poder conhecer a pessoa secreta que em
seus pensamentos tu revelas ser, desvendar seu olhar e
em minha cabeça escutar o que seus olhos têm para me
falar.

Tu me destes forças para sonhar, a capacidade de em
poucas palavras verdadeiro significado dar, encontrar,
a necessidade de o precioso momento idealizar, um
coração para amar e nas asas da tempestade te buscar.

Lucas O. Ornaghi

domingo, 1 de agosto de 2010

SUBLIME SENTIMENTO

Estaria a felicidade longínqua e oculta dos caminhos
do coração? Teria a beleza se esvaído numa pintura
desvanecida pelo tempo? Seriam elas páginas já
esquecidas e não mais folheadas de livros? Estariam
elas morrendo neste mundo de eternas ilusões?

Velejando só o mar calado da flagelação não se
abale com as ondas da consternação, não pranteie
em vão o horizonte da desilusão, não deixe a
incerteza se arraigar em seu coração, não ouça seus
pensamentos sombrios que querem te causar aflição.

Juntos, prezada amiga, sopraremos a tormenta que
desespero em sua alma fomenta. Juntos
dissiparemos as sombras que pesadelos alimentarão,
da indesejável lembrança te recordarão e para uma
vida de lamentação te acordarão.

Juntos, estimada companheira, confrontaremos esse
mundo de escuridão, distinguiremos a falsa realização,
interpretaremos a cega idealização, e nas sendas da
retidão pisaremos para procurar pela verdadeira
satisfação.

Em nosso lugar perfeito não haverá tempo para
encontrar um defeito ou em uma lágrima sentir seu
efeito. Por que não tornar algo belo e perfeito por
valorizar um momento ou mesmo um sublime
sentimento?

Quando o futuro amanhecer, a luz do sol em sua
janela enfim bater, um anjo em um lindo pássaro
aparecerá, em seu canto o passado de trevas
perecerá e a alegria há muito distante no tempo e no
coração em ti renascerá.

Sua alma, amada irmã, não mais se entristecerá, em
sua vida um tempo de paz e serenidade se sucederá,
ao amor tu te renderás, com o próprio sorriso se
comprometerás e bons momentos então junto aos
amigos compartilharás.


Lucas O. Ornaghi

MORIBUNDO












Em meio às sombras se dirige um moribundo,
que nas últimas nesse mundo fugaz, olhando
para trás, vê que nunca foi capaz de viver em
paz, e no viver de um último estio, fatigado
pela leviandade dessa humanidade e
alquebrado por um denso fastio, sua
fragilidade o torna flébil.

Em sua indelével futilidade, sua alma, já
ignorada, do curso da vida quase
completamente apagada, não mais é
pressionada, não mais é forçada a viver
perturbada, não mais é acostumada a se ver
limitada pela sua enfadonha usualidade e a
sentir-se sem utilidade.

Na efemeridade de dias em que religiões
alegam saber a verdade, mas na realidade
encobrem sua insanidade, adeptos têm suas
revelações, e enquanto há eclosões de novas
facções, explosões se tornam imagens
esquecidas de reportagens de revistas
empilhadas em seu armário.

Fugindo de um intolerável viver ordinário,
mais um confinamento diário, reza o
moribundo para tão rápido como foi o seu
surgir ele assim também possa partir e não ter
de ver o ruir desse Éden de concreto, que
abandona Deus no esquecimento, achando
isso algo correto.

Sem mais comprometimento ou envolvimento
com nada nem ninguém, cansada do desdém,
em profunda consternação e sem mais
resignação, sua alma enlouqueceu e ninguém
mais a entendeu, mas no fundo do poço ela
não permaneceu - um fim a isso ela
rapidamente deu.


Lucas O. Ornaghi

sábado, 31 de julho de 2010

CONCLUSÃO DO DESILUDIDO

Ó semblante constante de outrora, acanhado e
enlevado contemplava a sua resplandecência,
mudo anelando seus traços divinos e obsesso
lamentando minha dependência. Ó semblante
perturbante de outrora, a verdade é que tu
não mais diferes agora.

No abrolhar de muitas alvoradas perdidas, em
meu devanear, a pintava do âmago de minha
alma com os mais belos versos apaixonados,
mas em minha obsessão fui consumido pela
consternação, e prostrado pela dor mergulhei
em um grande clamor.

O meu corpo começou a se definhar em meio a
tanta ingratidão, insensibilidade e rejeição, e
nas trevas do chão de meu quarto, rodeado
por versos inacabados e copos esvaziados,
ouvindo o sussurro das sombras em meus
ouvidos, em minha languidez temporariamente
enlouqueci e de viver esqueci.

Teimando com a minha alma, eu, um renegado
paciente, para ela um incômodo insistente,
mantinha-me à espera de um mero gesto de
apreciação, de um pouco de gratificação, mas
quando me dei conta de que seu olhar nunca
percorreria-me sabia que frustração
novamente eu teria.

Na minha ardente dedicação, levianamente
vivia meus dias em função do que agora não
passa de uma decepção, de uma estrela
apagada em meu coração, de um buraco negro
de sofrimento, de uma mera recordação já se
ofuscando no esquecimento.

Aprisionado à rejeição e lamentação há muito
deixei de estar, pois com o tempo fui compelido
a mudar, em uma pessoa consciente a me
transformar, e agora sei da tolice que há em no
amor se desperdiçar o limiar de uma existência
que não tarda para se findar.


Lucas O. Ornaghi

AMOR DESESPERADO DE UM SONHADOR

Apegada ao frio do inverno, desponta essa manhã de
pálida primavera, e sôfrego rezando para que ouças
meu clamor, desesperada minha alma sonha em ter
seu amor, tu que és tão singular quanto o rebentar de
muitas das flores que mais tarde envolverão esse
horizonte de perfume e cor.

Contemplar o abrolhar das primeiras delas é enxergar
a essência das belezas ocultas de nossa mãe Gaia,
mas por mais que a natureza a mim distraia, é com
sua saia que sou fustigado, que sou tentado,
conduzido à perdição e aprisionado a essa paixão de
contínuas dores de aflição.

Na alucinação de um dia conquistar seu coração,
acordo martirizado pelo viver desorientado de um
jovem aterrorizado, que fica imobilizado quando te
vê, sem saber como reagir, sem reconhecer o que
pela primeira vez está para sentir.

Minha consolação é que agora, embora eu ainda não
tenha o seu coração, através desses versos tu terás
noção de que por ti estará sempre preservada a minha
sincera afeição, uma vez que te amar se faz minha
eterna motivação.


Lucas O. Ornaghi

ETERNO DESENCANTO











Era o mês de abril, eu me sentia tão vazio
quando de um lento fastio das trevas da
noite ela surgiu, vulnerável me viu, em
seguida sorriu, e meu coração sucumbiu
e não resistiu ao anelar esse anjo que das
sombras luziu, me seduziu e depois partiu.

Na escuridão de uma noite sem Lua, nem
estrelas, sua voz de calhandra me guiou,
o perfume trescalando de seus cabelos a
brisa levou e me enfeitiçou, sua rara
beleza a paixão despertou, seus lábios
minha alma escravizou e ao beijo da
morte me condenou.

Nas horas mortas nós dançamos com a
musicalidade do vento, e sob o frescor do
relento ela me amou e sugou minha
mortalidade quase à última gota de
humanidade, que no solo caiu e
lentamente se esvaiu da felicidade
incompreendida da vida de simplicidade.

Tudo tão rápido como um arrepio na
minha vida se resumiu, a sede logo me
consumiu, a escuridão logo me abduziu,
o sangue humano como um
incomparável vinho também me atraiu e
um vampiro essa filha da noite produziu.

Sem maldade, sem responsabilidade,
vivi na naturalidade de minha nova
identidade, na insanidade de uma
constante necessidade, e ao passo que a
minha idade avançava, eu continuava
um jovem da eternidade, de séculos de
mera vaidade.

Milênios se findaram, vampiros o sangue
dos vivos sugaram, mas enfastiei-me ao
permanecer cativo dessa existência sem
objetivo, ao viver tanto só para descobrir
que nada passou de um eterno
desencanto para uma alma há muito em
pranto.

Lucas O. Ornaghi

quarta-feira, 28 de julho de 2010

CORAÇÃO DE ESTUDANTE












Flutuando na imensidão do universo em questão,
um astronauta sem razão para ter olhos de glória,
não enxerga a escória, não entende nem se
surpreende com o rumo da História, não observa
A Terra que o homem faz de serva ou a religião
desse mundo em desespero e desilusão, que põe
no coração do cego o céu como segunda opção e
o inferno como incentivo à santa devoção.

Vejo da janela terras desoladas, casas pela chuva
levadas, lágrimas não consoladas, perdas não
evitadas, mulheres violentadas, cidades
bombardeadas, mães que pelo desespero foram
tomadas, velhas adoentadas, crianças apavoradas
que choram amarguradas, faveladas vivem
esfomeadas, desorientadas, não amadas, nascendo
para serem abandonadas e pela rua criadas.

Em meus pesadelos almas flageladas ecoam vozes
que no escuro tristeza sussurram, minhas mãos
geladas suam, meus olhos não mais se situam, mas
não recuam, sabem que estou distante, longe de
estar o bastante para saciar a insatisfação de meu
coração de estudante, que nunca teme o que lhe
está adiante, continua sempre avante, sem deixar de se

preocupar e sua paixão pelo mundo se arraigar.

Pensamentos voam em minha mente, palavras ecoam
de repente, ideias em meu subconsciente redefinem o

presente, e de um jovem consciente se concebe um
pensador excelente, um descobridor inteligente, uma
pessoa eficiente, ciente desse ambiente que abriga
meu mundo carente e as pessoas descrentes,
personagens de um quadro deprimente que ainda
se mostra presente.

Cansei de ignorar o vermelho luar que sangra acima
do mar de insanidade em que se afoga a humanidade,
e enquanto o mundo rodando alto está clamando,
prossigo com meus olhos estudando, o conhecimento
das páginas dos livros buscando, o misterioso da vida

experimentando, meus sentimentos poetizando, meus
devaneios estimulando, meus sentidos explorando e a
mim mesmo ao viver de cada dia superando.



Lucas O. Ornaghi

segunda-feira, 26 de julho de 2010

VIDA VÃ














À medida que a escuridão de quarteirão em
quarteirão chega a ti como um grilhão,
observe um mundo de sofreguidão partilhar
de uma mesma ilusão e cedo também te
levar para a perdição.

No ritmo dessa alienação muitos ainda
dançarão, suas almas entregarão, seus
sonhos matarão e nessa nova condição
paixões jamais cultivarão, felicidade já não
conhecerão.

Os anos passarão, as cãs logo aparecerão e
em lassidão e sem realização aos poucos
todos um dia sucumbirão, pois insatisfação
seus olhos revelarão e sua própria existência
deplorarão.

Tarde ressentirão ter gastado uma vida em
vão, ter vendido o coração e sacrificado a
compreensão, a percepção, tempo que agora
não passa de rápida abstração, de uma
dolorosa decepção.

A cada nova emoção, em seus íntimos
renasce a perturbação, a evocação de um
passado de desilusões, difíceis lições que
trazem a sensação de um vazio sem solução,
de um fastio sem resignação.



Lucas O. Ornaghi

quinta-feira, 27 de maio de 2010

FILOSOFIA DO COVEIRO POETA

Com a chuva se misturam lágrimas superficiais
de um bandido, ao passo que rubro e sem
sentido se esvai novamente despercebido o
sangue de mais um que foi pelo mal rendido.

A luz da aurora ilumina uma mórbida viela de
vidas ceifadas, vozes não mais pronunciadas,
fazendo da abstraída menina que vai para a
escola vítima eterna de rostos sem vida.

Olhos frios de um policial percorrem com
normalidade a atrocidade da alma perecida,
que na dor de cada indelicada ferida gritou em
protesto contra os abusos de seu homicida.

Durante a noite o médico-legista assoviando
logo vai acomodando lúgubres hóspedes numa
comprida gaveta, sala de espera que anuncia
o fim da vida desses bebês de proveta.

Na cova escura os pensamentos perecem,
inativos e em decomposição corpos
desaparecem, incorporando-se ao solo do qual
foram formados e terminaram desafortunados.

Mas não vá com a morte se perturbar, não há
um só fantasma que voltou para reclamar, não
há sombras na escuridão, apenas anonimato e
um retiro inanimado de solidão.

Lucas O. Ornaghi

domingo, 9 de maio de 2010

MUNDOS JAMAIS PENETRADOS












Viver se tornou um desespero silencioso, um
envelhecer ocioso. Deveríamos usar o tempo para
amar e não sermos tolos em ficar à mercê da
incerteza que essa vida nos vai arrastar.

Queremos dormir, por poucas horas partir, não
mais existir e a angústia deixar de sentir, mas não
deixam-nos nem no sono fugir. Clamemos então
como o som de vozes perdidas a se propagar.

Sem saber onde pisar aprendemos a orar, a
esconder a lágrima que brilha no olhar. Oramos
para as vozes reprimidas da psique expulsar e de
quem amamos não termos mais de nos afastar
nem nas sombras quem somos ocultar.

A vida de ponta cabeça é difícil como um quebra-
cabeça, pois em mundos jamais penetrados não
existem respostas, nada é definitivo e tudo se
perpetua na estrada para o enigmático.

Somos todos sombras uns para os outros, tão
obscuros quanto o próprio universo, que se
estende além do alcance dos olhos, que abriga
mundos inexplorados, jamais penetrados.


Lucas O. Ornaghi

domingo, 2 de maio de 2010

RUA DAS SOMBRAS ERRANTES

Cruzando ruas feitas de mundos alheios aos
olhos do homem institucionalizado,
realidades colidem entre a luz e as trevas
numa batalha de eternos contrastes.

Em cada esquina vultos se escondem em sua
vergonha e desaparecem na escuridão, como
as sombras de um mundo de que não querem
mais lembrar e sua infeliz presença aceitar.

Um rosto que passa ligeiro se oculta atrás
de uma parede de vidro, observando com um
olhar calejado a tribulação de almas
desconhecidas que logo são esquecidas.

Nas lágrimas da criança que desamparada
caminha errante pelas ruas e semáforos,
facilmente se interpreta o desgosto de
vidas ignoradas vivendo o incerto despertar.

Inocentes, injustiçados, nomes nunca
pronunciados, vagabundos e criminosos são
os que lhe foram batizados, os nomes dos
discriminados e pelo sistema descartados.

Disparos irrefletidos inserem novos
fantasmas na noite, enquanto lúgubre se
esvai o sangue de um jovem vitimado pela
arma de um tolo, que logo é inocentado.

Desesperadas protestam suas vozes que
precisam ser ouvidas, mas ecoam em vão e
inaudíveis chegam clamores nunca
atendidos, só nas preces dos fiéis ouvidos.


Lucas O. Ornaghi

sábado, 3 de abril de 2010

TERRA DOS SÓFOS


Vacante a alma humana sustenta sua existência,
confinada a uma alienação que perpetua calada
a sua dolência.

Desgostoso o homem fecha com tijolos o mundo
além dos seus olhos, e o universo em solidão
chora sem ser encontrado pelo devaneio poético.

Sentado na Lua, um poeta viaja agora em seus
pensamentos rumo ao insólito, percorrendo
caminhos ínvios para atingir mundos inefáveis.

Na noite sombria a poesia renasce indelével e
sublima o ignoto, e nela o poeta vê além da
gnose da qual se vangloriam os ressabidos.

Na terra dos sófos luzernas cortam as trevas
da noite e são perseguidas por passos céleres, o
som que ecoa das paixões reprimidas da psique.


Lucas O. Ornaghi

sexta-feira, 19 de março de 2010

TRAGADO PELO SISTEMA


Vivendo o que já conheço, sem aprender tudo
que há para se saber, procuro conhecer MAIS
do que meus olhos podem ver, MAIS do que
muitos podem ler, MAIS do que os quadros
aparentam ser, MAIS do que os sábios
declaram saber, MAIS do que o mundo
professa crer.

Rumo AO QUE DESCONHEÇO meu coração
quer me levar, e INSATISFEITO INSISTO EM
ESTAR para nunca parar de buscar enxergar
a poesia presente em qualquer lugar, mas
quando eu começo a querer pensar, não
demora até esse mundo vir para me tragar.

Ao passar de cada dia sem alegria me vão
achar, porque o sistema procura sempre me
fatigar, e quando eu chego em casa SEM
FORÇAS PARA SONHAR, FICA DIFÍCIL
NÃO SUJEITAR MINHA MENTE para
acordar no vazio conseqüente desse mundo
descrente e oprimente.

Assim, impaciente esqueço-me de sorrir,
esqueço de dormir, preferia fugir, e SEM TER
PELO QUE VIVER, alienado e a fim de
desaparecer, no pirar devaneado de
cada instante, meus minutos se tornam o
tempo conflitante de horas agonizantes.

Enquanto eu SOU MASTIGADO por
infinitos pensamentos, infinitas
preocupações, corações extenuados
batem à minha volta acelerados a batida
desse sistema, que não te permite respirar,
nem te dá tempo para se recuperar e o viver
conseguir poetizar.

CANSADO de me levantar, de transpirar, de
me irritar, de me desgastar, JÁ NÃO
ESPERO ser possível me apaziguar, pois
por mais que eu queira o misterioso
experimentar, explorar e decifrar, essa vida
só vai me fazer aderir à preguiça de pensar.


Lucas O. Ornaghi

segunda-feira, 15 de março de 2010

O MUNDO DO POETA E SUA PSIQUE

Para introduzir os textos das próximas postagens, embora já tenha postado sobre a Censura Implícita, acho importante resgatar o tema. A coleção de poemas intitulada O Poeta Acorrentado e Sua Psique aborda a condição do ser humano do século XXI, sobretudo a sensação generalizada de se sentir aprisionado e a necessidade de se resgatar uma percepção que se perdeu, permitindo novamente a entrada das luzes na “janela da alma”. Entendamos melhor.

O ser humano vive acorrentado a um modo de vida imposto pela sociedade contemporânea, que massifica a maneira de pensar e agir de modo que tudo se torne tão sistemático a ponto de limitar ou comprimir a sua visão do mundo e de si mesmo. Os ideais pregados e incutidos são logo aderidos através de um constante bombardeio de informações e ideias que se repetem com grande velocidade, fixando-se no intelecto de maneira inconsciente, porém ainda capaz de exercer uma influência de peso no pensamento.

Os meios de comunicação se tornaram não apenas um canal de influência, mas uma forma de controlar o ser humano e até mesmo de indiretamente reprimir ou estimular convicções e ações. Assim, as pessoas permanecem confinadas às paredes invisíveis de suas psiques, vítimas de uma censura que cega e aliena, levando a uma aceitação de ideias e mensagens sem um pré-julgamento.

A busca pelo alcance da felicidade é um reflexo das ambições fomentadas pela realidade de uma sociedade globalizada, mas depois se converte no ato de desespero que conduz à procura por "portas de saída", a procura por alguma paz, por meios de escapar da vida submissa a perenes anseios. O homem é institucionalizado e limitado por uma existência sustentada pela superficialidade das relações e a execução de atividades mecânicas, sendo gradativamente cegado com alvos vãos e uma visão distorcida de felicidade e progresso.

O acesso a essas "portas de saída" se dá através de distintos caminhos, como a religião, a "superioridade" da arte, o prazer imediato da vida baseada no carpe diem ou no epicurismo, o suicídio, que "soluciona" a existente incapacidade de confrontar o presente, o encontro genuíno do amor e amizades, a escolha de uma vida simples, talvez não influenciada pela instabilidade das tendências do sistema, e o estoicismo, que diz que todo excesso resulta em desequilíbrio e infelicidade; a felicidade está em retirá-la das pequenas coisas, ou seja, é preciso saber viver para saber morrer.

Quando se aborda, por exemplo, a religião como instituição, nota-se que esta tem exercido um impacto negativo com a sua adulteração, já que antes de ser um bem comum, dissemina mentiras que distorcem valiosos princípios e ensinamentos. Além disso, agrega uma minoria de aproveitadores que se apresentam como pessoas tementes a Deus, mas não passam de "falsos profetas" que idolatram os deuses desse sistema e acabam enriquecendo à custa de seus adeptos. E ainda há outros que dissuadem homens a apoiar e provocar atrocidades, impelindo o sacrifício de suas mentes ignorantes, que não enxergam o papel de suas vidas na promoção dos interesses sempre de uma elite que cobiça o desejo de ascensão. 
O fato é que a escolha do indivíduo é o que o capacitará a enfrentar o drama existencial da vida ou não. Sob o perpétuo confinamento da alma a seus almejos, nascemos e morremos escravos da insatisfação. Ao passo que cavamos o infinito com a lâmpada do sonho, abafando as queixas implacáveis de nosso íntimo, não somos capazes de saciar o que cobiça e desespera o coração, o que nos faz depreciar nossa existência e nos deixa angustiados ao cavarmos os abismos das eternas ânsias.