domingo, 12 de setembro de 2010

CAMINHANDO NA PRAIA DAS SOMBRAS

Sombria tem nascido a aurora e a felicidade
já não passa de uma imagem vaga em meus
avelhentados olhos. Um denso negrume tem
se irrompido em minha vida e as memórias
de outrora me são as seqüelas do presente.

Dia após dia, acordando em pesadelos, já
não sei mais onde estou. Estaria eu
novamente na praia? Estaria novamente
inserido nessa questão de vida ou morte que
ceifa nossas almas mortais?


Em meus pesadelos, caminhando na praia
das sombras, olho acima de mim para o
céu rubro, avistando nuvens de fumaça e
sentindo uma chuva carregada de ódio
penetrar a face e percorrer o meu corpo.

Em minha alma sinto aqui a morte. Quando
percorro esse lugar sou forçado a observar
um horizonte cercado por um mar vermelho
de sangue injustificado e a sentir a cólera
dos residentes desse solo amaldiçoado.

Na praia das sombras compartilho a
angústia de antigos fantasmas. Eu olho
abaixo de mim, mas não vejo a bela areia
branca, só poeira e cinzas- restos mortais
de um passado sanguinolento e bestial.

Como um eremita prossigo caminhando
nesse ermo que alimenta a animosidade
das sombras que ressurgem, resgatando
aos olhos rostos do passado, marionetes
abandonadas nas trevas do esquecimento.

Hoje campos verdes abrigam cruzes
brancas que se estendem como um mar de
nomes desconhecidos, e é lá que dias de
glória acabaram, com uma salva de 21 tiros,
uma continência militar e uma bandeira.

Quando o amanhã não chegar para mim sei
que lá estarei enfim, esquecido como esses
intrépidos, nada além de um resquício da
areia da praia das sombras, da insanidade
que conduz os homens à perdição.

Lucas O. Ornaghi

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