domingo, 13 de outubro de 2013

ESPÍRITO DA PRIMAVERA













O vento que chega carrega um lamento,
dói o choro que segue calado na alma
amargurada dos espinhos da vida.

Em cada lágrima mora um pensamento,
a doce canção compõe a consolação
e num breve momento vive a liberdade.

Não existe amor que não ocupe o vazio,
não há sorriso que não aparte as trevas
nem bondade que endureça corações.

Um navio à deriva não tem um destino,
assim como a ideia que está em inércia,
sem reação para se tornar realidade.

Saudade é pensar no que se passou,
mágoa é remoer os arrependimentos,
mas a covardia é se esquecer de viver.

Glória é provar o gosto da alvorada,
feliz é o que aprende a amar a vida e
para ele só há o espírito da primavera.


Lucas O. Ornaghi

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

ESTRANHO



















Estranho é procurar entender aquilo que se vê,
quando antes de o mundo poder ser explicado
eu tornei-me um estranho para mim mesmo.

Acredito que o universo preserva a verdade,
e acredito que o universo também mora em
meus membros, na densa sombra da psique,
e espero por isso ser mais que carne e sangue.

Mas se a verdade mora em meu universo, por
que não consigo encontrá-la e trazê-la da
profunda escuridão para a gloriosa luz?

Olho para o meu próprio reflexo e vejo que ele
é por si mesmo parte de tudo o que eu sou e
ao mesmo tempo não sou, um retrato fresco
que está exposto sob os véus da consciência.

Acordo-me com a luz, deito-me com as trevas,
e dias e noites apenas perlongam a incerteza,
alimentam minhas percepções do indecifrável.

Não conheço o que é estranho, mas permito
que o tesouro bruto de minha alma seja
refinado por Aquele a quem nem carne ou
escuridão podem ocultar minha real essência.


Lucas O. Ornaghi 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

DIAS DE JUVENTUDE














Cai pelo anoitecer o som da chuva afável,
inabalável chega ao coração a nostalgia,
tempo de se amar uma velha fotografia,
ocasião nobre em que recordar desafia.

O coração resgata a estação primaveril,
lembra-se de como era a mente pueril,
sorri saudosamente para aquela vaidade,
anseia restaurar a feliz simplicidade.

Lembrar-se da mocidade acalora a alma,
desperta a exaltação e também acalma,
reacende a gratidão do quê se conquistou,
mas reabre feridas da dor que cicatrizou.

O momento percorre a estrada da vida,
avança com uma passagem só de ida,
faz do presente uma futura lembrança,
e produz no espírito uma eterna criança.

A luz da aurora trouxe dias de juventude,
elevou as alegrias e beleza à magnitude,
e chegou o ocaso não para entristecer,
mas para se viver e o tempo enriquecer.


Lucas O. Ornaghi

sexta-feira, 15 de março de 2013

PASSAGEIROS DO TEMPO













Muitos são os dias e noites a passar por nós,
devaneios e pesadelos, rostos e desgostos,
ações e reações, bênçãos e desgraças.

O tempo nos conduz através de escolhas e
nos leva para um destino desconhecido,
a um caminho incerto, mas a hora é exata.

Partiremos em ponto, seguiremos em frente,
e a chegada é a expectativa de uma vida,
mas desembarcar é aceitar aonde se chega.

Somos todos passageiros do tempo, e qual
é o tempo que nos resta não sabemos, e
não queremos saber, queremos viajar.

Lucas O. Ornaghi

domingo, 17 de fevereiro de 2013

NOSTÁLGICO SOB O LUAR



















Eis a lua diante da expressão nostálgica da noite,
e na nostalgia de um homem taciturno sua alma
pranteia memórias que o ferem como o açoite,
e na sarjeta um cachorro lambe a sua palma.

Espectros do passado lhe causam desalento,
lembram-no do amor que havia em sua mente,
e ele se retira para um banco sob o frio relento,
deitando-se pensa em si mesmo descrente.

Seus olhos se fecham e sonha com a felicidade,
mas seus olhos se abrem para a contrariedade,
e noite após noite a lua expõe a sua inquietação,
um coração escravizado a conhecer a decepção.

Não quer prosseguir como vassalo da pobreza,
mas não quer se tornar um escravo da avareza,
súdito de um mundo fadado a sempre cobiçar,
onde ricos e pobres sentem a agonia se arraigar.

Lucas O. Ornaghi