quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O CIDADÃO – A FORÇA PENSANTE DA NAÇÃO

Quantos artigos já não escreveram sobre a importância da educação e de como o acesso a uma educação de qualidade se refletiria positivamente na vida dos economicamente menos favorecidos. É, infelizmente, bem popular o fato de que ainda existem muitos jovens em idade escolar que nem sabem o que leem, não conseguem identificar linhas de raciocínio distintas ou compreender o humor. Mas gostaria de parar para enxergar essa situação de outra forma. Imagine quantas mentes jovens e pensantes tem seu potencial hoje desperdiçado.

Deveríamos enxergar a importância de todos exercerem a responsabilidade individual de exercitar a faculdade de raciocínio, a importância de cada cidadão ser uma manifestação viva da força pensante da nação, uma pessoa de atitude bem posicionada em relação ao que observa; a importância de não ser mais uma marionete do sistema, de mente massificada e inoperante que tem preguiça de pensar, mas autônoma, crítica e contestadora. De fato, se as pessoas, independentemente dos seus níveis sociais, aprendessem a pensar, isso se refletiria em toda a sociedade em forma de desenvolvimento.



Lucas O. Ornaghi

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Utilização da Arte na Propaganda Agrega Valor Para Todos?

A criatividade artística é fundamental para despertar a sensibilização emocional sobre públicos diversos e seus universos particulares, auxiliando no desenvolvimento de um conteúdo estético capaz disso. A arte se incorporou e modificou no mesmo ritmo da sociedade de consumo, uma vez que as influências entre a arte e a propaganda ocorreram no mesmo sentido. Assim, as manifestações artísticas assumiram a arte como um ritual conformista, desde a Pop Art e Minimal Art até a Arte Conceitual.

Abraham Moles, em sua obra O Cartaz, faz menção à civilização contemporânea como sendo ‘a civilização da imagem’. De fato, o mundo globalizado vive à mercê dos constantes bombardeios de imagem e informação da Indústria Cultural e de seus meios de comunicação de massa, tendo a propaganda na arte uma condição de existência.

Elza Maria Ajzemberg em seu estudo “Modernidade e/ou pós-modernidade?” alega que ‘o homem é seduzido pelo objeto, para se inserir no circuito do capitalismo como obra de arte’. Assim sendo, a publicidade por meio de signos artisticamente dispostos na imagem é um instrumento gerador de múltiplos estímulos para atingir o perfil de cada consumidor ou interpretante potencial, que constrói a sua percepção a partir da realidade ao qual está inserido.

O papel da publicidade hoje é o de adequar continuamente a sua manifestação artística aos media ou suportes dos meios de comunicação, que utilizará no intuito de provocar a sensibilização do consumidor. Essa sensibilização intenta levá-lo a negar hábitos anteriores de vida e consumo, preservar determinados valores e oferecer um diferencial que justifique uma alternativa de consumo que se diz superior.

Repetidas vezes peças publicitárias se utilizam de esculturas ou pinturas para agregar autoridade em suas mensagens, e essa estratégia contempla dois objetivos, que são riqueza e espiritualidade, fazendo da aquisição proposta a representação da união entre luxo e valor cultural. Assim, a publicidade se apropria das relações entre a obra de arte e o espectador comprador, prendendo a produção cultural ao circulo vicioso do consumo, tornando a arte gradativamente mais dependente do mercado. Seria essa uma ação de repercussão negativa para com a identidade artística?

Há divergência de opiniões quanto a esse uso da arte e a capacidade de agregar valor para todas as pessoas. Existem duas linhas de análise. A primeira se refere ao uso da arte na propaganda e a segunda aos efeitos da percepção do consumidor em relação a essa massificação da arte. Analisemo-las separadamente.

Em relação à primeira, para os adeptos da Escola de Frankfurt, por exemplo, que tem Theodor Wiesengrund-Adorno como um dos principais pensadores, utilizar a arte nas peças publicitárias de forma a massificá-la significaria degenerá-la. “O fato de não serem mais que negócios bastam-lhes como ideologia”, disse Adorno. Enquanto negócio, os fins comerciais são desempenhados através de metódica e planejada exploração de bens considerados culturais. Tal exploração ele chama de “indústria cultural”. Poder-se-ia argumentar que mesmo as propagandas mais estéticas às vezes são tão vazias de significado que não justificam sua forma. Seria então a validade dessa arte meramente comercial?

Walter Benjamin, outro pensador da Escola de Frankfurt, mostra que as técnicas de reprodução das obras de arte promovem a inutilização do elemento tradicional da herança cultural, reconhecendo que a massificação faz a função artística aparecer como acessória. Como afirma Bertolt Brecht, mencionado por Benjamin, “desde que a obra de arte se torna mercadoria, não mais se lhe pode aplicar a noção de obra de arte”.

Contudo, há um lado positivo sobre a utilização de arte na propaganda. O fortalecimento do posicionamento nacional no mercado internacional das artes tem como base do sucesso o investimento em obras que fazem referência ao seu sistema de valores, alega Ana Letícia Fialho, em seu texto “Mercado de Artes: Global e Desigual”. Uma das formas de promover esse fortalecimento é pelo aumento de referências em publicações e na mídia, sendo esse o “ponto de partida para a construção de uma história internacional da arte brasileira”.

O texto também traz como informação o fato de que ‘há políticas públicas de incentivo à produção nacional’, e já é conhecida a eficácia de fazer publicidade com arte pela maneira como o belo atrai a visão do observador. Por que então não disponibilizar incentivos fiscais para despertar o interesse das marcas a fim de criarem peças publicitárias, comerciais e embalagens que agreguem valor à arte nacional? Não seria essa uma forma de valorizar a cultura e difundir a arte?

A segunda linha de análise é sobre os efeitos da percepção do consumidor em relação à massificação da arte na propaganda. Pode-se começar refletindo que em uma obra de arte o belo está presente nela, mas depende de quem a contempla para que ele se revele. Da mesma forma se dá, por exemplo, na peça publicitária que usa alguma obra artística. Depende da capacidade de percepção de quem observa e associa a disposição dos elementos contidos na peça para determinar se o valor agregado pela interpretação será só comercial ou também artístico. Caso o indivíduo olhe para o elemento artístico presente na peça, mas veja apenas algo a ser consumido, ele não constrói princípios de beleza e compreensão sobre o valor da obra em si. E assim é indiferente quando isso ocorre.

Para introduzir alguns conceitos sobre a capacidade perceptiva do ser humano, os estudos de Charles Sanders Peirce (1839-1914), filósofo, cientista e matemático estadunidense, fornecem uma boa base a partir da pesquisa semiótica. Do ponto-de-vista semiótico, a percepção é onde se origina o pensamento. Peirce alega que “o pensamento lógico entra pela porta da percepção e sai pela porta da ação deliberada”. Observação, ação deliberada e pensamento constituem uma tríade que descreve as categorias da mente e da natureza sobre as quais Peirce desenvolveu a Teoria Geral dos Signos, que tem o signo como referência para se analisar os níveis de percepção sobre o mundo.

O homem é um ser decifrador de signos que constantemente moldam a sua percepção e atitudes. O julgamento de percepção é uma ação sucessiva, assim como é o pensamento e aprendizagem. Segundo a semiótica, a percepção dos objetos da realidade (objetivação) tem início na primeiridade (qualidades superficiais), passando depois pela secundidade (relações de causa e efeito) e terceiridade (formação de um conceito). Os feixes perceptivos (perceptos) que a natureza emite afetam a mente (percipuum) através dos órgãos dos sentidos. Assim, ‘perceber é estar diante de algo que se apresenta, utilizando outros sentidos sensoriais e aguçando o sistema cognitivo’, e a percepção se limita ao que o indivíduo tem condições de perceber.

Com isso em mente, não se pode alegar que todos tenham a mesma pré-concepção do real para compreender o significado dos signos da mesma maneira. A mensagem a ser observada é conseqüência da interação de signos comuns com um referente percebido subjetivamente por cada mente interpretante. O julgamento de percepção é uma ação sucessiva e inconstante, assim como é o pensamento e a aprendizagem, sendo a vivência pessoal e o grau de instrução fatores influentes. Portanto, a utilização da arte na propaganda agrega valor somente para aqueles quem têm condições de identificá-la e aceitam esse tipo de iniciativa e apropriação da arte.

Lucas O. Ornaghi

CONCLUSÃO SOBRE A CENSURA

A censura é geralmente taxada como algo negativo, nocivo, que inflige a liberdade pessoal, mas ela também é usada para repreender certas atitudes que vão de encontro com a moral das pessoas, um conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, sendo conseqüência dos relacionamentos humanos. A moral é um dos referenciais da ética que tem como objetivo evitar a ocorrência de posturas consideradas repreensíveis e que devem ser censuradas, como a corrupção, a violência, o assassinato etc.

Todavia, a censura que mais atinge não é aquela que faz o ser humano se envolver em protestos, é aquela que age em silêncio, transformando o indivíduo através da inconsciência de sua psique. Lamarck explica que a sociedade cria rótulos a serem seguidos, impedindo o livre arbítrio. Se isso é verdade, pode-se confiar em si mesmo? Deve-se desconfiar dos meios de comunicação de massa? Manter-se informado hoje é o equivalente a ser manipulado, implicitamente censurado? Para responder, eu diria que Minha alma não é um item negociável e por isso eu não sou um fantoche. Estou mentalmente cansado, mas não sou manipulado. Tenho mais é vontade de me alienar, mas não posso simplesmente meus olhos fechar, e por isso em dias melhores tento acreditar para não esmorecer e ao amanhã sobrevier sem antes me vender” (Lucas O. Ornaghi).


Lucas O. Ornaghi

A CENSURA IMPLÍCITA

“O Éden virou a cobiça em um sonho de
consumo, e em resumo não há mais
necessidade de ser profundo se o
pensamento massificado agora move o
mundo globalizado”.
Lucas O. Ornaghi

A maioria das pessoas, engrenagens vivas e pensantes de um mundo globalizado, acordam programadas para executar funções sistemáticas de um modo de vida usual, constantemente moldado pelos meios de comunicação de massa, presentes em quase toda a Terra e suas sociedades. O ser humano é tão bombardeado com informações, que acaba sendo induzido a adotar passivamente os padrões de vida e consumo do sistema capitalista, ao qual está inserido.

O conceito de ideologia proposto por Marx é uma realidade nua aos olhos humanos, que se encontram cegados por uma cegueira não física ou literal, mas mental, a cegueira do pensamento. A ideologia através do mass media, conforme citado na introdução, de forma direta ou indireta, incentiva ou reprime convicções e ações, originando consensos que encobrem as formas de dominação e manipulam o povo. Assim, as pessoas agregam valores que a Indústria Cultural incute de modo mascarado e isso se converte numa forma de controle de peso, uma vez que elas desconhecem os efeitos das mensagens ocultas que as influenciam diariamente.

As transformações científico-tecnológicas do século XIX repercutiram com a criação de indivíduos anônimos, despertaram um comportamento coletivo e acentuaram o apelo emotivo. Isso gerou a alienação, a aceitação de idéias e mensagens sem um pré-julgamento por parte das pessoas, que acabaram aceitando o controle de suas mentes sem se aperceberem disso.

Inconsciente e gradativamente o cérebro fica calejado, pára de exercitar as faculdades mentais e o pensamento deixa de ser autônomo no indivíduo, que perde a compreensão do meio em que vive e dele mesmo. Por que pensar quando outros já o estão fazendo por ele? São lhe dadas opções. Basta se deixar influenciar. Todos os caminhos são propostas de vida, uma sujeição aos ideais do sistema, que mata suas quimeras, no sentindo de enterrar suas verdadeiras paixões no efêmero viver dessa viva mecânica, suprimindo a sua percepção da vida e do mundo. Por isso...

“Vacante a alma humana sustenta sua existência,
confinada a uma alienação que perpetua calada
a sua dolência”.
Lucas O. Ornaghi

De acordo com o site

www.indcultural.hpg.ig.com.br/ateoriacritica.htm, que explica a Teoria Crítica do filósofo alemão Max Horkheimer, “(...) o observador é continuamente colocado, sem o saber, na situação de absorver ordens, indicações, proibições”. Isso caracteriza a censura implícita, que dita de forma ideológica ao invés da autoritária, violenta, conceitos como os de felicidade e beleza, relacionando-os por meio de diversas abordagens publicitárias às pessoas, que embora sejam diferentes umas das outras, não deixam de buscá-los, pois querem aceitação, se enxergarem dentro dos padrões e perfis criados. Porém, esquecem-se de que nem todos os caminhos levam ao paraíso.


“Eu já andei nesse jardim, no começo não
parece ruim, é fácil estar a fim, mas
prefiro no banco de uma praça qualquer
sentar e parar de me enganar”.

Lucas O. Ornaghi

Independente disso, as pessoas não querem se sentir excluídas de seus grupos sociais, pois só estão à vontade com elas mesmas quando os outros também se sentem à vontade com a presença delas, quando são bem vistas pelos olhos altaneiros que as cercam, seja em relação ao sexo oposto, a colegas de trabalho ou escola, e até mesmo no sentido de transparecerem superioridade em nível social. Para não obterem uma crítica negativa, uma censura por parte da sociedade, fingem ser quem não são, refletindo isso em seu comportamento e imagem, reprimindo seus desejos e suas verdadeiras vocações.

“Despertando no sonho da alienação, vejo-me através de
um espelho lá fora buscando gratificação, e longe sempre
estou de mim mesmo e de encontrar uma porta de saída
desses dias de frustração”.
Lucas O. Ornaghi

A partir da segunda metade do século XX, com o avanço tecnológico dos meios de comunicação, conseqüente do processo de industrialização, apareceu o tão comentado mass media, constituído por veículos de comunicação de massa que difundem e massificam a cultura, fazendo dela uma fonte de lucro ao divulgar produtos supérfluos.

“Esperando, reclamando, engordando, embriagando-me,
endividando-me, de todos suspeitando, continuo aqui odiando-me,
irritando-me com esse sistema que meus passos fica vigiando,
da minha vida se alimentando e como uma marionete me
controlando”.

“As pessoas querem suas idéias me vender, mas nada é
o que parece ser, pois tudo o que elas têm a oferecer é
um mundo de ilusões que vai infeliz te fazer”.


Lucas O. Ornaghi

A Massificação do Pensamento e a Censura nos Meios de Comunicação



O ser humano vive acorrentado a um modo de vida imposto pela sociedade contemporânea, que massifica a maneira de pensar e agir de modo que tudo se torne tão sistemático a ponto de limitar ou comprimir a sua visão de mundo e de si mesmo. Os ideais pregados e incutidos são logo aderidos através de um constante bombardeio de informações e idéias que se repetem com grande velocidade, fixando-se no intelecto de maneira inconsciente, porém ainda capaz de exercer uma influência de peso no pensamento.

Os meios de comunicação se tornaram não apenas um canal de influência, mas uma forma de controlar o ser humano e até mesmo de indiretamente reprimir ou estimular convicções e ações. Na sociedade globalizada, o homem é institucionalizado e limitado por uma existência sustentada pela superficialidade das relações e a execução de atividades mecânicas e usuais, gradativamente cegando-o com alvos vãos e sua visão distorcida de felicidade e progresso. Assim, o homem deixa de compreender a si mesmo e o mundo em que vive.

Devido a isso, torna-se fundamental “(...) ter olhos quando os outros os perderam (...)”, não no caso de uma cegueira literal ou física, mas no sentido de criar formas de comunicação que contemplem um modo diferente de interpretar e transformar a realidade. Se “(...) a voz é a vista de quem não vê (...)”, manifestar, comunicar ou expor os elementos que resgatem uma percepção que se perdeu é responsabilidade daqueles que se propõem a utilizar os meios de comunicação existentes ou a desenvolver outros, para romper conceitos pré-estabelecidos e libertar o homem de qualquer forma de censura imposta pelo sistema, mesmo que indireta, pois essa ainda é capaz de reprimi-lo e aliená-lo.

Numa “epidemia de cegueira” que atinge todas as camadas da sociedade, é preciso identificar quem seriam as pessoas de visão, quem foram, quem são e que impacto poderão futuramente causar. Seriam elas uma ameaça à ordem social? Seriam suas idéias o estopim de revoluções? Seria o uso da autoridade um meio de comprometer a liberdade nos meios de comunicação? Seria a censura uma imposição necessária?

Lucas O. Ornaghi