sábado, 31 de julho de 2010

CONCLUSÃO DO DESILUDIDO

Ó semblante constante de outrora, acanhado e
enlevado contemplava a sua resplandecência,
mudo anelando seus traços divinos e obsesso
lamentando minha dependência. Ó semblante
perturbante de outrora, a verdade é que tu
não mais diferes agora.

No abrolhar de muitas alvoradas perdidas, em
meu devanear, a pintava do âmago de minha
alma com os mais belos versos apaixonados,
mas em minha obsessão fui consumido pela
consternação, e prostrado pela dor mergulhei
em um grande clamor.

O meu corpo começou a se definhar em meio a
tanta ingratidão, insensibilidade e rejeição, e
nas trevas do chão de meu quarto, rodeado
por versos inacabados e copos esvaziados,
ouvindo o sussurro das sombras em meus
ouvidos, em minha languidez temporariamente
enlouqueci e de viver esqueci.

Teimando com a minha alma, eu, um renegado
paciente, para ela um incômodo insistente,
mantinha-me à espera de um mero gesto de
apreciação, de um pouco de gratificação, mas
quando me dei conta de que seu olhar nunca
percorreria-me sabia que frustração
novamente eu teria.

Na minha ardente dedicação, levianamente
vivia meus dias em função do que agora não
passa de uma decepção, de uma estrela
apagada em meu coração, de um buraco negro
de sofrimento, de uma mera recordação já se
ofuscando no esquecimento.

Aprisionado à rejeição e lamentação há muito
deixei de estar, pois com o tempo fui compelido
a mudar, em uma pessoa consciente a me
transformar, e agora sei da tolice que há em no
amor se desperdiçar o limiar de uma existência
que não tarda para se findar.


Lucas O. Ornaghi

AMOR DESESPERADO DE UM SONHADOR

Apegada ao frio do inverno, desponta essa manhã de
pálida primavera, e sôfrego rezando para que ouças
meu clamor, desesperada minha alma sonha em ter
seu amor, tu que és tão singular quanto o rebentar de
muitas das flores que mais tarde envolverão esse
horizonte de perfume e cor.

Contemplar o abrolhar das primeiras delas é enxergar
a essência das belezas ocultas de nossa mãe Gaia,
mas por mais que a natureza a mim distraia, é com
sua saia que sou fustigado, que sou tentado,
conduzido à perdição e aprisionado a essa paixão de
contínuas dores de aflição.

Na alucinação de um dia conquistar seu coração,
acordo martirizado pelo viver desorientado de um
jovem aterrorizado, que fica imobilizado quando te
vê, sem saber como reagir, sem reconhecer o que
pela primeira vez está para sentir.

Minha consolação é que agora, embora eu ainda não
tenha o seu coração, através desses versos tu terás
noção de que por ti estará sempre preservada a minha
sincera afeição, uma vez que te amar se faz minha
eterna motivação.


Lucas O. Ornaghi

ETERNO DESENCANTO











Era o mês de abril, eu me sentia tão vazio
quando de um lento fastio das trevas da
noite ela surgiu, vulnerável me viu, em
seguida sorriu, e meu coração sucumbiu
e não resistiu ao anelar esse anjo que das
sombras luziu, me seduziu e depois partiu.

Na escuridão de uma noite sem Lua, nem
estrelas, sua voz de calhandra me guiou,
o perfume trescalando de seus cabelos a
brisa levou e me enfeitiçou, sua rara
beleza a paixão despertou, seus lábios
minha alma escravizou e ao beijo da
morte me condenou.

Nas horas mortas nós dançamos com a
musicalidade do vento, e sob o frescor do
relento ela me amou e sugou minha
mortalidade quase à última gota de
humanidade, que no solo caiu e
lentamente se esvaiu da felicidade
incompreendida da vida de simplicidade.

Tudo tão rápido como um arrepio na
minha vida se resumiu, a sede logo me
consumiu, a escuridão logo me abduziu,
o sangue humano como um
incomparável vinho também me atraiu e
um vampiro essa filha da noite produziu.

Sem maldade, sem responsabilidade,
vivi na naturalidade de minha nova
identidade, na insanidade de uma
constante necessidade, e ao passo que a
minha idade avançava, eu continuava
um jovem da eternidade, de séculos de
mera vaidade.

Milênios se findaram, vampiros o sangue
dos vivos sugaram, mas enfastiei-me ao
permanecer cativo dessa existência sem
objetivo, ao viver tanto só para descobrir
que nada passou de um eterno
desencanto para uma alma há muito em
pranto.

Lucas O. Ornaghi

quarta-feira, 28 de julho de 2010

CORAÇÃO DE ESTUDANTE












Flutuando na imensidão do universo em questão,
um astronauta sem razão para ter olhos de glória,
não enxerga a escória, não entende nem se
surpreende com o rumo da História, não observa
A Terra que o homem faz de serva ou a religião
desse mundo em desespero e desilusão, que põe
no coração do cego o céu como segunda opção e
o inferno como incentivo à santa devoção.

Vejo da janela terras desoladas, casas pela chuva
levadas, lágrimas não consoladas, perdas não
evitadas, mulheres violentadas, cidades
bombardeadas, mães que pelo desespero foram
tomadas, velhas adoentadas, crianças apavoradas
que choram amarguradas, faveladas vivem
esfomeadas, desorientadas, não amadas, nascendo
para serem abandonadas e pela rua criadas.

Em meus pesadelos almas flageladas ecoam vozes
que no escuro tristeza sussurram, minhas mãos
geladas suam, meus olhos não mais se situam, mas
não recuam, sabem que estou distante, longe de
estar o bastante para saciar a insatisfação de meu
coração de estudante, que nunca teme o que lhe
está adiante, continua sempre avante, sem deixar de se

preocupar e sua paixão pelo mundo se arraigar.

Pensamentos voam em minha mente, palavras ecoam
de repente, ideias em meu subconsciente redefinem o

presente, e de um jovem consciente se concebe um
pensador excelente, um descobridor inteligente, uma
pessoa eficiente, ciente desse ambiente que abriga
meu mundo carente e as pessoas descrentes,
personagens de um quadro deprimente que ainda
se mostra presente.

Cansei de ignorar o vermelho luar que sangra acima
do mar de insanidade em que se afoga a humanidade,
e enquanto o mundo rodando alto está clamando,
prossigo com meus olhos estudando, o conhecimento
das páginas dos livros buscando, o misterioso da vida

experimentando, meus sentimentos poetizando, meus
devaneios estimulando, meus sentidos explorando e a
mim mesmo ao viver de cada dia superando.



Lucas O. Ornaghi

segunda-feira, 26 de julho de 2010

VIDA VÃ














À medida que a escuridão de quarteirão em
quarteirão chega a ti como um grilhão,
observe um mundo de sofreguidão partilhar
de uma mesma ilusão e cedo também te
levar para a perdição.

No ritmo dessa alienação muitos ainda
dançarão, suas almas entregarão, seus
sonhos matarão e nessa nova condição
paixões jamais cultivarão, felicidade já não
conhecerão.

Os anos passarão, as cãs logo aparecerão e
em lassidão e sem realização aos poucos
todos um dia sucumbirão, pois insatisfação
seus olhos revelarão e sua própria existência
deplorarão.

Tarde ressentirão ter gastado uma vida em
vão, ter vendido o coração e sacrificado a
compreensão, a percepção, tempo que agora
não passa de rápida abstração, de uma
dolorosa decepção.

A cada nova emoção, em seus íntimos
renasce a perturbação, a evocação de um
passado de desilusões, difíceis lições que
trazem a sensação de um vazio sem solução,
de um fastio sem resignação.



Lucas O. Ornaghi