sábado, 31 de julho de 2010

ETERNO DESENCANTO











Era o mês de abril, eu me sentia tão vazio
quando de um lento fastio das trevas da
noite ela surgiu, vulnerável me viu, em
seguida sorriu, e meu coração sucumbiu
e não resistiu ao anelar esse anjo que das
sombras luziu, me seduziu e depois partiu.

Na escuridão de uma noite sem Lua, nem
estrelas, sua voz de calhandra me guiou,
o perfume trescalando de seus cabelos a
brisa levou e me enfeitiçou, sua rara
beleza a paixão despertou, seus lábios
minha alma escravizou e ao beijo da
morte me condenou.

Nas horas mortas nós dançamos com a
musicalidade do vento, e sob o frescor do
relento ela me amou e sugou minha
mortalidade quase à última gota de
humanidade, que no solo caiu e
lentamente se esvaiu da felicidade
incompreendida da vida de simplicidade.

Tudo tão rápido como um arrepio na
minha vida se resumiu, a sede logo me
consumiu, a escuridão logo me abduziu,
o sangue humano como um
incomparável vinho também me atraiu e
um vampiro essa filha da noite produziu.

Sem maldade, sem responsabilidade,
vivi na naturalidade de minha nova
identidade, na insanidade de uma
constante necessidade, e ao passo que a
minha idade avançava, eu continuava
um jovem da eternidade, de séculos de
mera vaidade.

Milênios se findaram, vampiros o sangue
dos vivos sugaram, mas enfastiei-me ao
permanecer cativo dessa existência sem
objetivo, ao viver tanto só para descobrir
que nada passou de um eterno
desencanto para uma alma há muito em
pranto.

Lucas O. Ornaghi

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