segunda-feira, 23 de agosto de 2010

EM BUSCA DO ÚLTIMO DETALHE

Destinado a nascer e morrer num mundo
que exige perfeição vivi a minha vida na
ilusão de um dia rematar o último detalhe,
mas inevitável é encontrar sempre um
detalhe a mais para se ajustar e não
ignorar o fato de nunca poder falhar.

Irrequieto numa vida de constantes
aspirações e ofegantes respirações fui
tolo em confiar no coração e me deixar
levar pela vã obsessão de ser um peão,
controlado pela sensação de lá fora
conseguir causar uma boa impressão.

Quando eu acordei não acreditei nos
anos que leviamente usei, na vida que
desperdicei, porque pela primeira vez eu
levantei e no espelho me olhei, e ao invés
da expressão de um rosto, outro espelho
surgiu, refletindo meu ser vazio.

Lucas O. Ornaghi

domingo, 15 de agosto de 2010

VESTÍGIOS DO HORIZONTE

Tão rápida a esperança na noite se perdeu e diante de
meus insones olhos abruptamente o Sol várias vezes
nasceu. Dias passaram, mas nada me acrescentaram,
anos me envelheceram, mas minha alma não
enriqueceram.

Apreensivo o amanhã respiro, alérgico ao ar da vã
existência espirro, solto um suspiro, problemas para
um copo com whiskey transfiro, contra meu reflexo o
punho atiro, com o vidro me firo, por pouco não piro
e o sangue de meus pulsos de vez tiro.

Sempre comprimido, abatido, a um insignificante
reduzido, como um animal enjaulado, rigidamente
disciplinado, sou abusado, privado, institucionalizado.

A infelicidade consentir, a mentir e sorrir sou
ordenado, controlado para não ser brutalizado e
acordar um marginalizado pelo sistema descartado.

Não me deixe apodrecer. Eu já sou um fragmento da
existência, uma sombra de um tempo passado que
ainda sobrevive no vazio e tédio do presente.

Sei o que buscar, mas não sei onde encontrar. O que
eu não tenho o sistema insiste em oferecer, mas nunca
é o que eu preciso para feliz ser.

As pessoas querem suas ideias me vender, mas nada é
o que parece ser, pois tudo o que elas têm a oferecer é
um mundo de ilusões que vai infeliz te fazer.

Trilhando um caminho incerto eu olho para o
horizonte à procura de algo que me satisfaça, mas o
que restou nesse mundo eu chamo de desgraça.

Lucas O. Ornaghi

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ADAMANTINO

Ouço incansáveis vozes que insistem em minha
cabeça retumbar, mas para a propaganda mundana
nela não há lugar, e se minha alma não é um item a
negociar não podem me subjugar.

Ignorem minha existência e não me tentem. Não
procuro uma proposta de vida, então não me
enfrentem. Não estou amistoso, só desgostoso,
mentalmente cansado, mas nunca manipulado.

Confie em poucos. Confie nos loucos. Entenda
a insanidade da mente que vive livremente nos
mentalmente perturbados e naqueles poucos
loucos pelo sistema ainda não moldados.

Há uma febre em minha cabeça querendo arder,
uma ira reprimida a libertar, lágrimas de sangue a
verter, paredes a quebrar e um coração
adamantino a manter.

Lucas O. Ornaghi

terça-feira, 3 de agosto de 2010

ETERNO DEVANEIO DO AMANHÃ

Houve o tempo em que a declamação se tornou a prece
tímida de uma sombra esquecida na escuridão,
enquanto a luz da poesia se apagava cada vez mais no
frio coração de um poeta em solidão.

Tudo parecia ser em vão, a vida passou a ter o peso de
uma obrigação, a mente vagueava à procura de uma
nova ilusão, já que longe queria estar da realidade
presa à razão.

A única sensação era a de despertar sempre no chão,
em constante alienação, uma porta de saída para
escapar de dias de tédio e frustração sem aparente
solução.

Até que um dia pousou uma pomba branca em minha
mão carregando-me para longe do desgosto e
insatisfação desses tempos, dando-me motivos para
viver então.

Daquela pomba um anjo em forma de mulher se
revelou, sua voz me convidou, nas nuvens distantes me
levou, os alicerces da minha alma amparou e a paz das
ondas do mar tu me presenteaste.

Tu se tornaste a aurora, a noite sombria, o eterno
devaneio do amanhã, o contínuo pensamento, a
importância de cada momento, a alegria que ilumina a
minha alma em noites de trevas e sofrimento.

Tu és a saudade, a amizade que me resgata da
usualidade, leva-me além das fronteiras da realidade
para um mundo criado em instantes de felicidade e
liberdade.

Quem me dera poder conhecer a pessoa secreta que em
seus pensamentos tu revelas ser, desvendar seu olhar e
em minha cabeça escutar o que seus olhos têm para me
falar.

Tu me destes forças para sonhar, a capacidade de em
poucas palavras verdadeiro significado dar, encontrar,
a necessidade de o precioso momento idealizar, um
coração para amar e nas asas da tempestade te buscar.

Lucas O. Ornaghi

domingo, 1 de agosto de 2010

SUBLIME SENTIMENTO

Estaria a felicidade longínqua e oculta dos caminhos
do coração? Teria a beleza se esvaído numa pintura
desvanecida pelo tempo? Seriam elas páginas já
esquecidas e não mais folheadas de livros? Estariam
elas morrendo neste mundo de eternas ilusões?

Velejando só o mar calado da flagelação não se
abale com as ondas da consternação, não pranteie
em vão o horizonte da desilusão, não deixe a
incerteza se arraigar em seu coração, não ouça seus
pensamentos sombrios que querem te causar aflição.

Juntos, prezada amiga, sopraremos a tormenta que
desespero em sua alma fomenta. Juntos
dissiparemos as sombras que pesadelos alimentarão,
da indesejável lembrança te recordarão e para uma
vida de lamentação te acordarão.

Juntos, estimada companheira, confrontaremos esse
mundo de escuridão, distinguiremos a falsa realização,
interpretaremos a cega idealização, e nas sendas da
retidão pisaremos para procurar pela verdadeira
satisfação.

Em nosso lugar perfeito não haverá tempo para
encontrar um defeito ou em uma lágrima sentir seu
efeito. Por que não tornar algo belo e perfeito por
valorizar um momento ou mesmo um sublime
sentimento?

Quando o futuro amanhecer, a luz do sol em sua
janela enfim bater, um anjo em um lindo pássaro
aparecerá, em seu canto o passado de trevas
perecerá e a alegria há muito distante no tempo e no
coração em ti renascerá.

Sua alma, amada irmã, não mais se entristecerá, em
sua vida um tempo de paz e serenidade se sucederá,
ao amor tu te renderás, com o próprio sorriso se
comprometerás e bons momentos então junto aos
amigos compartilharás.


Lucas O. Ornaghi

MORIBUNDO












Em meio às sombras se dirige um moribundo,
que nas últimas nesse mundo fugaz, olhando
para trás, vê que nunca foi capaz de viver em
paz, e no viver de um último estio, fatigado
pela leviandade dessa humanidade e
alquebrado por um denso fastio, sua
fragilidade o torna flébil.

Em sua indelével futilidade, sua alma, já
ignorada, do curso da vida quase
completamente apagada, não mais é
pressionada, não mais é forçada a viver
perturbada, não mais é acostumada a se ver
limitada pela sua enfadonha usualidade e a
sentir-se sem utilidade.

Na efemeridade de dias em que religiões
alegam saber a verdade, mas na realidade
encobrem sua insanidade, adeptos têm suas
revelações, e enquanto há eclosões de novas
facções, explosões se tornam imagens
esquecidas de reportagens de revistas
empilhadas em seu armário.

Fugindo de um intolerável viver ordinário,
mais um confinamento diário, reza o
moribundo para tão rápido como foi o seu
surgir ele assim também possa partir e não ter
de ver o ruir desse Éden de concreto, que
abandona Deus no esquecimento, achando
isso algo correto.

Sem mais comprometimento ou envolvimento
com nada nem ninguém, cansada do desdém,
em profunda consternação e sem mais
resignação, sua alma enlouqueceu e ninguém
mais a entendeu, mas no fundo do poço ela
não permaneceu - um fim a isso ela
rapidamente deu.


Lucas O. Ornaghi