domingo, 1 de agosto de 2010
MORIBUNDO
Em meio às sombras se dirige um moribundo,
que nas últimas nesse mundo fugaz, olhando
para trás, vê que nunca foi capaz de viver em
paz, e no viver de um último estio, fatigado
pela leviandade dessa humanidade e
alquebrado por um denso fastio, sua
fragilidade o torna flébil.
Em sua indelével futilidade, sua alma, já
ignorada, do curso da vida quase
completamente apagada, não mais é
pressionada, não mais é forçada a viver
perturbada, não mais é acostumada a se ver
limitada pela sua enfadonha usualidade e a
sentir-se sem utilidade.
Na efemeridade de dias em que religiões
alegam saber a verdade, mas na realidade
encobrem sua insanidade, adeptos têm suas
revelações, e enquanto há eclosões de novas
facções, explosões se tornam imagens
esquecidas de reportagens de revistas
empilhadas em seu armário.
Fugindo de um intolerável viver ordinário,
mais um confinamento diário, reza o
moribundo para tão rápido como foi o seu
surgir ele assim também possa partir e não ter
de ver o ruir desse Éden de concreto, que
abandona Deus no esquecimento, achando
isso algo correto.
Sem mais comprometimento ou envolvimento
com nada nem ninguém, cansada do desdém,
em profunda consternação e sem mais
resignação, sua alma enlouqueceu e ninguém
mais a entendeu, mas no fundo do poço ela
não permaneceu - um fim a isso ela
rapidamente deu.
Lucas O. Ornaghi
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