quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O POETA ACORRENTADO E SUA PSIQUE

















Rubros cada vez mais são os entardeceres
e a luz da alva a expectativa temerosa de
um mundo adúltero que caminha na
estrada de sua ruína, onde as sombras de
nossas ações nos forçam a viver um
martírio atroz.


Cruzando um mar de rostos
desconhecidos e marcados pela cobiça, a
ansiedade aperta o coração e há
insanidade quando não se quer perder nas
trevas de dias de desesperança os ideais
ignorados de outrora.


Morta e violentada a humanidade é, mas
se indignação foi realmente um dia
emocionada por um coração, esta foi há
muito levada pelo vento tempestuoso que
precedeu à grande tormenta que nos tem
desolado.


A insensatez nos torna a desgraça desse
solo abençoado que herdamos e agora
desesperados iluminação buscamos,
recorrendo às igrejas, onde a cera das
velas não mais é consumida pelo fulgor
de línguas de fogo e há escuridão.

Acorrentado não saio do lugar, e por isso
preciso à psique chegar para me libertar
das correntes desse mundo que mata
minhas quimeras, enterrando verdadeiras
paixões no efêmero viver dessa vida
mecânica.

Lucas O. Ornaghi

sábado, 12 de fevereiro de 2011

ATÉ QUANDO AMOR?

Controle não mais tenho da situação,
não encontro a razão, nada faz
sentido se foi em vão, e agora, tão só
como a solidão, fiel amiga da perdição,
despeço-me da efêmera paixão.


Não sei o quê fazer, não sei onde o
quebranto esconder, não sei sob um
sorriso superficial viver, só sei que
pensar em ti faz minha alma em
profundas dores gemer.


Olhando para o espelho, o olhar além
de uma expressão atinge na viajem do
pensamento uma nova dimensão,
onde na psique e sua extensão mora
a constante indecisão.


Como uma criança, alimentava um
amor inocente, um amor que jamais
mente, um amor permanente, um
amor que não precisa ser conveniente,
um amor que não me deixa carente.


Sim, queria como uma apaixonada
criança novamente ser, não tendo de
a luz da alva temer, não tendo de ver
meu reflexo a cada dia mais adoecer,
nem de lágrimas de desespero verter.


Queria que tu estivesses presente,
sendo da minha felicidade ainda a
semente, mas em seu suspiro vivente
não mais encontro ao lado da sua, a
vida que possa chamar de decente.


O tempo parece ter parado, meu
coração petrificado, minha história em
dor estacionado, inerte como uma
estátua me transformado, ao amor
para sempre me renunciado.


Pergunto-me, como posso de novo me
apaixonar, se o amor, tão frágil
quanto a beleza de uma flor,
indefinidamente desvanecer e a dores
eternas me submeter?


Ah...insólito amor, até quando hão
de as areias do tempo meus dias
vazios marcar, minha busca por ti
precipitar, meus pensamentos
supliciar até enfim o poder achar?


Diga-me Eros que está próximo o meu
amor, cinja-me Afrodite de seu Cestus
e inspire em mim a paixão, devolva-me
a doce sensação, devolva-me um
coração por mim cheio de afeição.


Lucas O. Ornaghi

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

12 ESTROFES DE PROTESTO

Vejo meus semelhantes como vira-latas
abandonados, na grama deitados, sujos,
violentados, esfomeados, chamando-me
com seus rostos banalizados.


O tolo com palavras ensaiadas
sensibiliza os tolos, e eleitos, suas
promessas vazias não quebram mais o
galho depois de escândalos e corrupção-
até a próxima eleição!


Eu já andei nesse jardim, no começo não
parece ruim, é fácil estar a fim, mas
prefiro no banco de uma praça qualquer
sentar e parar de me enganar.


O Éden virou a cobiça em um sonho de
consumo, e em resumo não há mais
necessidade de ser profundo se o
pensamento massificado agora move o
mundo globalizado.


Fala de Darwin o hipócrita intelectual,
só evoluído pra vender um falso ideal,
sempre pronto pra defender ideias que
vendem o que outros podem achar legal.


A ciência se tornou agora a nova bíblia
do cego, sendo de fato prática, não nego,
mas ela é também o manual do macaco
louco que para a multidão acena e com
seu ego a todos condena.


Queremos sempre um novo jeito de
manipular a vida, a genética nos auxilia
nessa corrida, mas nossas próprias
vidas estão sempre fora de controle.


Perdidos, atrás de Sua Santidade pecam
escondidos, vendendo mapas com seus
caminhos e impureza, distorcendo as
indicações dos sábios de outrora com
as pegadas falsas da incerteza.


Pastores são os novos marketeiros e a
religião é seu novo negócio, o único
clube que te convida a vender a alma
e todo o resto para se tornar sócio.


Cristo em toda sua carreira terrestre
buscava do Pai a glória, mas o ostentoso
Papa pop star se contenta com a própria,
sendo um ídolo e um dos maiores
mestres da oratória.


As crianças de hoje são as bombas do
amanhã, soldados improvisados,
recrutados das mães pobres que parem o
exército das novas facções.


Tenho mais é vontade de me alienar, mas
não posso simplesmente meus olhos
fechar, e por isso em dias melhores tento
acreditar para não esmorecer e ao
amanhã sobrevier sem antes me vender.


Lucas O. Ornaghi