Com a chuva se misturam lágrimas superficiais
de um bandido, ao passo que rubro e sem
sentido se esvai novamente despercebido o
sangue de mais um que foi pelo mal rendido.
A luz da aurora ilumina uma mórbida viela de
vidas ceifadas, vozes não mais pronunciadas,
fazendo da abstraída menina que vai para a
escola vítima eterna de rostos sem vida.
Olhos frios de um policial percorrem com
normalidade a atrocidade da alma perecida,
que na dor de cada indelicada ferida gritou em
protesto contra os abusos de seu homicida.
Durante a noite o médico-legista assoviando
logo vai acomodando lúgubres hóspedes numa
comprida gaveta, sala de espera que anuncia
o fim da vida desses bebês de proveta.
Na cova escura os pensamentos perecem,
inativos e em decomposição corpos
desaparecem, incorporando-se ao solo do qual
foram formados e terminaram desafortunados.
Mas não vá com a morte se perturbar, não há
um só fantasma que voltou para reclamar, não
há sombras na escuridão, apenas anonimato e
um retiro inanimado de solidão.
Lucas O. Ornaghi
quinta-feira, 27 de maio de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
MUNDOS JAMAIS PENETRADOS
Viver se tornou um desespero silencioso, um
envelhecer ocioso. Deveríamos usar o tempo para
amar e não sermos tolos em ficar à mercê da
incerteza que essa vida nos vai arrastar.
Queremos dormir, por poucas horas partir, não
mais existir e a angústia deixar de sentir, mas não
deixam-nos nem no sono fugir. Clamemos então
como o som de vozes perdidas a se propagar.
Sem saber onde pisar aprendemos a orar, a
esconder a lágrima que brilha no olhar. Oramos
para as vozes reprimidas da psique expulsar e de
quem amamos não termos mais de nos afastar
nem nas sombras quem somos ocultar.
A vida de ponta cabeça é difícil como um quebra-
cabeça, pois em mundos jamais penetrados não
existem respostas, nada é definitivo e tudo se
perpetua na estrada para o enigmático.
Somos todos sombras uns para os outros, tão
obscuros quanto o próprio universo, que se
estende além do alcance dos olhos, que abriga
mundos inexplorados, jamais penetrados.
Lucas O. Ornaghi
domingo, 2 de maio de 2010
RUA DAS SOMBRAS ERRANTES
Cruzando ruas feitas de mundos alheios aos
olhos do homem institucionalizado,
realidades colidem entre a luz e as trevas
numa batalha de eternos contrastes.
Em cada esquina vultos se escondem em sua
vergonha e desaparecem na escuridão, como
as sombras de um mundo de que não querem
mais lembrar e sua infeliz presença aceitar.
Um rosto que passa ligeiro se oculta atrás
de uma parede de vidro, observando com um
olhar calejado a tribulação de almas
desconhecidas que logo são esquecidas.
Nas lágrimas da criança que desamparada
caminha errante pelas ruas e semáforos,
facilmente se interpreta o desgosto de
vidas ignoradas vivendo o incerto despertar.
Inocentes, injustiçados, nomes nunca
pronunciados, vagabundos e criminosos são
os que lhe foram batizados, os nomes dos
discriminados e pelo sistema descartados.
Disparos irrefletidos inserem novos
fantasmas na noite, enquanto lúgubre se
esvai o sangue de um jovem vitimado pela
arma de um tolo, que logo é inocentado.
Desesperadas protestam suas vozes que
precisam ser ouvidas, mas ecoam em vão e
inaudíveis chegam clamores nunca
atendidos, só nas preces dos fiéis ouvidos.
Lucas O. Ornaghi
olhos do homem institucionalizado,
realidades colidem entre a luz e as trevas
numa batalha de eternos contrastes.
Em cada esquina vultos se escondem em sua
vergonha e desaparecem na escuridão, como
as sombras de um mundo de que não querem
mais lembrar e sua infeliz presença aceitar.
Um rosto que passa ligeiro se oculta atrás
de uma parede de vidro, observando com um
olhar calejado a tribulação de almas
desconhecidas que logo são esquecidas.
Nas lágrimas da criança que desamparada
caminha errante pelas ruas e semáforos,
facilmente se interpreta o desgosto de
vidas ignoradas vivendo o incerto despertar.
Inocentes, injustiçados, nomes nunca
pronunciados, vagabundos e criminosos são
os que lhe foram batizados, os nomes dos
discriminados e pelo sistema descartados.
Disparos irrefletidos inserem novos
fantasmas na noite, enquanto lúgubre se
esvai o sangue de um jovem vitimado pela
arma de um tolo, que logo é inocentado.
Desesperadas protestam suas vozes que
precisam ser ouvidas, mas ecoam em vão e
inaudíveis chegam clamores nunca
atendidos, só nas preces dos fiéis ouvidos.
Lucas O. Ornaghi
Assinar:
Postagens (Atom)