segunda-feira, 30 de abril de 2012
DESAPIEDADO
Não sou do jeito que você me imaginou,
não estou mais da forma como me deixou,
não quero encontrar quem me machucou,
não me importa se a ferida cicatrizou.
Uma nova percepção na dor despontou,
a sensação de viver ludibriado se tornou,
a sofreguidão os meus nervos tomou,
a insanidade meus delírios emancipou.
Uma luz no pardo empíreo me alumiou,
a chuva que ruía à minha ruína se ligou,
ela me contou que a vida me atropelou,
ela me lavou e a minha cólera abrandou.
Do abismo da alma o vento me arrastou,
a lágrima à chuva do ocaso se combinou,
a autopiedade até agora me impregnou,
mas sinto que já desapiedado estou.
Não há mais Jekyll se a vida me assolou,
nada além da vertigem que me atravessou,
só há Hyde e a frieza que me sobrepujou
e a divagar nas horas mortas condenou.
Lucas O. Ornaghi
domingo, 15 de abril de 2012
A PRAIA DA MENTE
A razão mora numa concha na praia da mente,
uma ideia faz um mar revolto e inconsequente,
pensamentos impetuosos a ferem de repente.
Como ondas, a arrastam para o mar profundo,
a insanidade domina a razão num segundo,
afoga-a num obscuro e desconhecido mundo.
À deriva fica o vislumbre solitário da exultação,
tão afastado da razão e de alguma motivação,
sem saber se um sentimento dará a direção.
Não há como evitar a corrente da emoção,
a percepção se corrompe e se torna a ilusão,
trazendo equivocadas ideias à sublimação.
Às vezes a concha volta para a praia da mente,
mas a borrasca a aguarda silenciosamente
para surpreendê-la atemorizantemente.
Lucas O. Ornaghi
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